Você já ouviu falar em foniatria? Especialidade trata distúrbios da comunicação e linguagem humana
O diagnóstico dos distúrbios da comunicação e linguagem humana, caracterizados por problemas com a voz, fala, linguagem e audição, está entre as principais funções da foniatria, área de atuação da otorrinolaringologia que pode ajudar a identificar problemas que vão desde gagueiras até transtorno do espectro autista.
Dr. Gilberto Ferlin, otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista, explica de que forma a especialidade pode ajudar no diagnóstico e recuperação de crianças e adultos que apresentam estes problemas e destaca que os distúrbios de linguagem estão entre as principais sequelas da pandemia da Covid-19.
“Já é sabido que a própria infecção viral causada pelo Coronavírus afeta diretamente o neuro funcionamento com repercussões que atingem também a linguagem. No entanto, as alterações sociais causadas pelo isolamento e privação dos contatos presenciais também são capazes de restringir os sentidos envolvidos na comunicação humana e sua integração.”
Conforme o especialista, o problema pode atingir crianças – principalmente as menores, que passaram a pandemia privadas dos primeiros contatos sociais – e adolescentes, que, nessa fase da vida, necessitam da interação social para o desenvolvimento cerebral, atingindo também a aprendizagem, além das questões psíquicas.
No entanto, também é comum em adultos e idosos, independentemente de terem ou não sido infectados pelo Coronavírus e suas variantes. “Essas alterações ambientais se mostraram capazes de afetar o desenvolvimento e uso da linguagem, atrasando e, por vezes, desencadeando, em pessoas já predispostas a distúrbios de comunicação. A boa notícia é que, com a devida avaliação e suporte, estes atrasos podem ter uma resolução.”
Entendendo a especialidade
Quando se pensa em comunicação, devemos lembrar que estamos falando em transmissão de mensagens e ideias através da linguagem, que é mais amplo que apenas a língua falada. Para isso deve haver compreensão e expressão entre interlocutores. Avaliar os sistemas orgânicos que subsidiam a linguagem, habilidade que diferencia e caracteriza a espécie humana, é um dos motivos pelos quais a avaliação foniátrica termina sendo ampla e dinâmica.
Entre os principais distúrbios de comunicação que a foniatria investiga, diagnostica e participa do tratamento estão atrasos de fala e/ou linguagem desde a infância; o transtorno da pragmática – que se caracteriza pela dificuldade com o uso social da linguagem –, e de fluência, como a gagueira.
“Muitas vezes, crianças que atrasam para falar recebem diagnóstico de transtorno do espectro autista sem que o diagnóstico diferencial cuidadoso com outros distúrbios da comunicação tenha sido feito, apenas pela falha na comunicação que é evidente nestes pacientes.”
Conforme o médico, transtornos de atenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade, que trazem consequências para a comunicação e seu desenvolvimento, também estão entre os avaliados pelo foniatra, bem como atrasos e transtornos de aprendizado, que podem ocorrer em estudantes de todas as idades.
Dr. Ferlin explica que, em idosos, dificuldades sensoriais como perdas auditivas e visuais além de comprometimentos proprioceptivos e motores podem se somar à alterações neurológicas, comprometendo a comunicação do indivíduo e a adesão ao uso de próteses auditivas. “Nesses casos, a avaliação foniátrica pode contribuir organizando as intervenções da equipe de reabilitação.”
Diagnóstico e tratamento
Segundo o especialista, podem ser avaliados pela foniatria desde pacientes muito pequenos – às vezes recém-nascidos – até crianças pré-escolares e escolares, adultos e idosos com dificuldade de compreender ou se expressar como antes, como em casos de sequelas da pandemia da Covid-19.
O diagnóstico diferencial dos distúrbios da comunicação consiste em uma avaliação médica voltada às alterações sensoriais, especialmente a audição; motoras, envolvendo habilidades necessárias para a produção da fala, a principal forma de expressão humana.
“É importante lembrar que a expressão é organizada e delicadamente orquestrada pelas funções cognitivas que dão suporte, não só para a fala, mas toda a linguagem. Nesse sentido, ela deve ser também investigada durante avaliação”
A partir da avaliação foniátrica, podem ser necessários ainda exames direcionados e avaliações específicas da equipe multidisciplinar, estruturando tratamentos e terapias individualizadas para as necessidades daquele paciente.
Benefícios da foniatria
Entre os casos recomendados, o médico afirma que a avaliação foniátrica deve ser solicitada e realizada em crianças com diagnóstico de síndromes genéticas que possam comprometer a compreensão – por alterações nos órgãos do sentido – e/ou expressão – por alterações motoras e cognitivas –.
O médico indica também para crianças em idade pré-escolar, sempre que existir dúvida sobre o desenvolvimento da fala e linguagem demonstradas por dificuldade de compreensão e/ou expressão, muitas vezes manifestadas como dificuldades em explorar o ambiente ou brincar de “faz de conta”.
Ela também ajuda os estudantes em fase escolar com dificuldade de alfabetização e aprendizado. “Para as crianças em que um dos pais ou algum irmão possua ou tenha tido dificuldades escolares ou ainda, tenha sido diagnosticado com problemas de linguagem, a avaliação foniátrica é importante”, alerta o especialista.
Em casos de prematuros que nascem muito pequenos e sofrem complicações perinatais, onde existam fatores de risco para a audição e desenvolvimento de linguagem, a avaliação foniátrica também é indicada.
Por fim, o especialista cita os adultos, em especial os idosos, que não se adaptam ao uso de recursos compensatórios para perdas sensoriais auditivas, como uso de aparelho de amplificação sonora individual e afins.
“Sempre que existir dúvidas quanto ao uso de habilidades de comunicação, como déficits de compreensão ou dificuldades de expressão, a avaliação foniátrica é recomendada”, finaliza o médico.